sábado, 29 de agosto de 2009

O Ano da França no Brasil


Como a França moldou o Brasil
Apesar do fracasso em ocupar o território da antiga colônia portuguesa, os franceses exerceram uma influência decisiva na formação brasileira
por Laurentino Gomes
Este é o Ano da França no Brasil. De 21 de abril até novembro, brasileiros de 15 cidades poderão ver o que os franceses têm de melhor. A lista inclui exposições de arte, concertos musicais, espetáculos de dança, teatro e cinema, debates e celebrações. É parte de um projeto ambicioso de intercâmbio, que começou em 2005, comemorado como o Ano do Brasil na França, com o objetivo de mostrar as novidades da cultura dos dois países.Essa história é bem mais antiga do que se imagina. Envolve uma relação de confronto e sedução de parte a parte, que acabaria por moldar de forma decisiva a identidade brasileira. Nos bistrôs e cafés parisienses, a música brasileira é onipresente. Os franceses adoram o samba, o carnaval, a literatura e o cinema brasileiros. O escritor Paulo Coelho é mais celebridade nas ruas de Paris que no Rio de Janeiro. Mas a França já era obcecada pelo Brasil antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral à Bahia. A recíproca se provaria verdadeira ao longo dos cinco séculos seguintes. Atualmente, os brasileiros fazem negócios com os Estados Unidos, mas cultuam a gastronomia, a moda, a arte e os prazeres da vida franceses.No período colonial, o Brasil deixou de ser francês por pouco. Foram os franceses que precipitaram a decisão do rei dom João III (1502-1557) de criar, em 1534, o sistema de capitanias hereditárias, o primeiro esforço de povoamento do Brasil. Nas primeiras décadas do século 16, franceses exploravam pau-brasil no litoral do Nordeste como se fossem donos do território. Há evidências de que já conheciam a costa brasileira bem antes de 1500. Um deles, Jean de Cousin, teria tentado se estabelecer na Amazônia em 1488.A guerra entre França e Portugal pela posse do Brasil durou mais de dois séculos. O primeiro confronto de que se tem notícia aconteceu em novembro de 1529, quando a nau La Pellérine invadiu a feitoria do rio Igaraçu, em Pernambuco, onde os portugueses tinham uma pequena fortaleza. Os franceses foram expulsos em 1532 pelo comandante Pero Lopes de Sousa (1497-1539). Meio século mais tarde, em 1550, Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571) ocupou o Rio de Janeiro por 12 anos, até ser derrotado por Mem de Sá (1500-1572). Em 1612, outra tentativa de ocupação, dessa vez no Maranhão, reconquistado após dois anos por Jerônimo de Albuquerque (1510-1584). No começo do século 18, haveria ainda mais duas investidas de corsários franceses contra o Rio. A última ocorreu em 12 de setembro de 1711. Ao amanhecer, encobertas pelo denso nevoeiro, 18 embarcações comandadas por René Duguay-Trouin (1673-1736) tomaram a cidade. Trouin foi embora em troca de um grande resgate pelos bens que havia saqueado.Marcas culturaisCessada a luta pela ocupação territorial, a influência francesa no Brasil se daria no campo das artes, dos costumes e das ideias. As consequências seriam profundas e duradouras. Seu marco foi a transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte (1769-1821). Ao chegar ao Brasil, dom João VI (1767-1826) iniciou um acelerado período de transformações. O esforço não foi apenas administrativo. Enquanto mandava abrir estradas, construir fábricas e organizar a estrutura de governo, dom João também se dedicava ao que o historiador Jurandir Malerba chamou de "empreendimentos civilizatórios". Nesse caso, a meta era promover as artes e a cultura e tentar infundir algum traço de refinamento e bom gosto nos hábitos atrasados da colônia.A maior dessas iniciativas foi a contratação, em Paris, da famosa Missão Artística Francesa. Chefiada por Joaquim Lebreton (1760-1819), secretário perpétuo da seção de belas-artes do Instituto de França, a missão chegou ao Brasil em 1816 e era composta por alguns dos mais renomados artistas da época, incluindo o pintor Jean-Baptiste Debret (1768-1848), Auguste Taunay, escultor (1791-1687), e Grandjean de Montigny (1776-1850), arquiteto.Oficialmente, o objetivo da missão francesa era a criação de uma academia de artes e ciências. O plano nunca saiu do papel, mas alguns historiadores consideram a chegada da missão o início efetivo das artes no Brasil. Na época da corte, a influência francesa era marcante no Rio de Janeiro. As lojas estavam repletas de novidades que chegavam de Paris. Incluíam vestidos e chapéus da última moda, perfumes, água-de-colônia, luvas, espelhos, relógios, tabaco, livros e uma infinidade de mercadorias até então proibidas e ignoradas na antiga colônia.Mas foi no campo das ideias que os franceses mais ajudaram a transformar o Brasil. Elas estavam por trás da Inconfidência Mineira, da Revolta dos Alfaiates na Bahia, da Revolução Pernambucana de 1817, da Confederação do Equador, em 1824, e de inúmeros outros movimentos de rebelião. Nos Autos de Devassa da Inconfidência foi encontrada uma coleção dos enciclopedistas francesas na casa de um dos conspiradores. Isso num tempo em que a circulação dessas obras era reprimida. O movimento da Independência, em 1822, foi tramado, em boa parte, dentro das Lojas Maçônicas, que tinham seu berço na França.Em resumo: às vésperas de sua independência, o Brasil dormia com o autoritário e conservador Portugal, mas sonhava mesmo era com a charmosa e libertária França.
Fonte: Site Aventuras na História

terça-feira, 28 de julho de 2009

02 - Índios


Texto escrito com base no capítulo 2.1 do livro de Boris Fausto "História do Brasil" (Pág.34)

Quando os europeus chegaram à terra que viria a ser o Brasil, encontraram uma população ameríndia bastante homogênea em termos culturais e lingüísticos, distribuída ao longo da costa e na bacia dos rios Paraná-Paraguai.
Podemos distinguir dois grandes blocos que subdividem essa população: Os tupis-guaranis e os tapuias. Os tupis-guaranis estendiam-se por quase toda a costa brasileira, desde pelo menos o Ceará até a Lagoa dos Patos no extremo sul. Os tupis também denominados tupinambás dominavam a faixa litorânea, do Norte até o Sul do estado de São Paulo (Em Cananéia); os guaranis localizavam-se na bacia do Paraná-Paraguai e no trecho do litoral entre Cananéia e no extremo sul do Brasil. Apesar dessa localização geográfica dispersa dos tupis e dos guaranis, falamos em grupo tupi-guarani, dada a semelhança de cultura e de língua.
Em alguns pontos do litoral, a presença tupi-guarani era interrompida por outros grupos como os goytacazes na foz do Rio Paraíba, pelos aimorés no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo, pelos tremembés na faixa entre o Ceará e o Maranhão.
Essas populações eram chamadas tapuias, uma palavra genérica usada pelos tupi-guaranis para designar os índios que falavam outra língua. Os portugueses identificaram de forma impressionista muitas “nações” indígenas como os carijós, tupiniquins, tamoios, etc.
É difícil analisar a sociedade e os costumes indígenas, por que se lida com povos de culturas muito diferentes da nossa e sobre a qual existiram e ainda existem fortes preconceitos. Isso se reflete em maior ou menor grau nos relatos escritos por cronistas, viajantes e padres, especialmente jesuítas. Existe nesses relatos uma diferenciação entre índios com qualidades positivas e índios com qualidades negativas de acordo com o grau de resistência aos portugueses.

Os grupos tupis praticavam a caça, a pesca, a coleta de frutas e a agricultura, mas, seria engano pensar que estivessem intuitivamente preocupados em preservar ou restabelecer o equilíbrio ecológico das áreas por eles ocupadas. Quando ocorria uma relativa exaustão de alimentos nessas áreas, migraram temporária ou definitivamente para outras. É óbvio, no entanto, que estavam longe de produzir os efeitos devastadores característicos das atividades dos brancos nos dias de hoje.
A economia era basicamente de subsistência havendo poucas trocas de gêneros alimentícios com outras aldeias. Existiam, porém, contato entre elas para a troca de mulheres, bens de luxo e pedras para se fazer botoque.
Dos contatos resultavam as alianças para o caso de guerra. A guerra e a captura de inimigos (mortos em meio a uma ritual de canibalismo) eram elementos integrantes da sociedade tupi.
A chegada dos portugueses ao Brasil representou uma verdadeira catástrofe para as populações indígenas. Muitos portugueses (principalmente os padres) eram confundidos com grandes pajés. Os brancos eram ao mesmo tempo respeitados, temidos e muitas vezes odiados, porém vistos como homens dotados de poderes especiais.
Por outro lado, como não existia uma única nação indígena, mas, sim grupos dispersos (muitas vezes inimigos) foi possível aos portugueses encontrar aliados entre os próprios indígenas. Os índios que foram submetidos aos portugueses sofreram com a violência cultural, epidemias e morte.Uma forma comum de resistência dos índios consistiu no isolamento, alcançado através de contínuos deslocamentos. Esse recurso permitiu, mesmo que de forma limitada, a preservação de uma herança biológica, social e cultural. Mas no conjunto, a palavra “catástrofe” á a mais adequada para designar o destino da população ameríndia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

01 - As causas da Expansão Marítima e a Chegada dos portugueses ao Brasil

Texto escrito com base no capítulo 01 do livro de Boris Fausto "História do Brasil"
(Pág.20)

A chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 constitui um dos episódios da expansão marítima portuguesa, iniciada em princípios do século XV. Para entender esse processo de expansão devemos começar pelas transformações ocorridas na Europa Ocidental nos séculos que precederam esse fenômeno.
Mesmo antes da expansão marítima os europeus já vinham expandindo os seus territórios por meio das cruzadas e guerras de reconquista. A Península Ibérica foi sendo retomada dos mouros e o Estado português foi consolidando-se nesse processo. Esse avanço, no entanto, foi interrompido pela crise que atingiu Europa no século XIV:
Uma crise de produtividade no campo (possivelmente ocasionada por fatores climáticos) provocou uma exploração mais intensa dos camponeses e gerou revoltas no campo. A nobreza dividiu-se internamente em uma série de guerras. Houve declínio da população, escassez de alimentos, epidemias, das quais a mais famosa foi a Peste Negra (1347-1351). Houve um retrocesso na expansão do território cristão.





A saída encontrada para tirar a Europa Ocidental da crise foi a centralização política na figura do rei a expansão geográfica e a ampliação da população a ser explorada (que se deu, entre outras coisas por meio da expansão marítima no século XV).

Portugal foi o pioneiro no processo de Expansão Marítima. Por quê?

Os principais fatores foram:

*A criação da Escola de Sagres pelo Infante Dom Henrique (1394 – 1460).
*No século XV, Portugal se afirmava no conjunto da Europa como um país autônomo, com tendência a voltar-se para fora.
*Os portugueses tinham experiência acumulada ao longo dos séculos XIII e XIV no comércio de longa distância.
*Lisboa, devido a sua localização geográfica, havia se tornado um grande centro mercantil, fazendo parte da rota comercial das cidades italiana até o norte europeu.
*A Experiência comercial foi facilitada pelo envolvimento econômico de Portugal com o mundo islâmico do Mediterrâneo.
*A posição geográfica do país facilitou a navegação devido a sua proximidade do Atlântico e suas ilhas, do continente africano e a presença de diversas correntes marítimas próximas à costa portuguesa que facilitava a navegação.



Mas, outros fatores da política portuguesa foram tão ou mais importantes que os já citados:
Embora Portugal não tenha escapado da crise do século XIV, as condições políticas em Portugal eram mais favoráveis que em outros lugares da Europa já que o Estado português (já unificado) estava menos sujeito a convulsões e disputas.
A monarquia portuguesa consolidou-se através de uma história teve um dos seus pontos mais significativos na Revolução de 1383-1385. Embora alguns historiadores considerem a Revolução de 1383 uma Revolução burguesa, o fato importante está nela ter provocado o reforço e a centralização do poder monárquico. Em torno do monarca (Mestre de Avis) foram se reagrupando vários setores sociais influentes da sociedade portuguesa: a nobreza, os comerciantes, e a burocracia nascente. Esse é um ponto fundamental na discussão sobre as razões da expansão portuguesa. Isso porque nas condições da época era o Estado, ou mais propriamente a Coroa, quem podia se transformar em um grande empreendedor, se alcançasse as condições de força e estabilidade para tanto.

Por último, lembremos que no início do século XV, a expansão correspondia aos interesses diversos das classes, grupos sociais e instituições que compunham a sociedade portuguesa:
Para os comerciantes a perspectiva era de um bom negócio.
*Para o rei era a oportunidade de criar novas fontes de receita além de ocupar os nobres.
*Para os nobres e membros da Igreja Católica servir ao rei ou servir a Deus cristianizando os povos “bárbaros” resultava em recompensas e em cargos cada vez mais difíceis de conseguir.
*Para o povo laçar-se ao mar significava emigrar, tentar uma vida melhor fugir do sistema.
*Apenas os empresários agrícolas ficavam de fora do processo.
A expansão converteu-se em uma espécie de projeto nacional que atravessou os séculos.

O Gosto pela aventura

Os impulsos pela aventura marítima não eram apenas comerciais. É importante compreender que o mundo naquela época era algo a ser descoberto pelos europeus. Eles não tinham uma noção do mundo como nós temos hoje. Havia continentes mal ou inteiramente desconhecidos para eles, oceanos ainda não atravessados. Essas regiões desconhecidas estimulavam a imaginação dos povos da Europa que vislumbravam conforme o caso, reinos fantásticos, habitantes monstruosos etc.


O desenvolvimento da navegação

A expansão marítima portuguesa representou uma importante renovação das chamadas “técnicas de marear”. O aperfeiçoamento de instrumentos como o quadrante, o astrolábio permitiram conhecer a localização de um navio pela posição dos astros. Os portugueses desenvolveram também um tipo de arquitetura naval mais apropriada, com a construção de caravelas utilizadas a partir de 1441. Era uma embarcação de pequeno porte, porém, extremamente veloz (para a época) que permitia aproximar-se bastante da terra firme sem o risco de encalhar.

A nova mentalidade humanista

Outro ponto importante da expansão portuguesa diz respeito a uma mudança gradual de mentalidade. No plano coletivo (popular) as mentalidades não mudaram rapidamente e o imaginário fantástico continuou a existir, mas, a expansão marítima foi mostrando cada vez mais como concepções antigas estavam equivocadas. Com isso, o critério de autoridade, ou seja, a aceitação de que uma afirmativa era verdadeira só por que foi feita por alguém que se supõe entender do assunto, começou a ser posto em dúvida. Era cada vez mais valorizado o conhecimento baseado na experiência.

A atração pelo ouro e pelas especiarias


Os bens mais buscados no curso da expansão portuguesa foram o ouro e as especiarias. É fácil compreender o interesse pelo ouro. O ouro era utilizado como moeda de troca, como índice de riqueza de uma nação (metalismo) e como artigo de luxo (jóias, roupas e decoração de templos e palácios). Mas, e as especiarias?
Associamos o termo especiaria à idéia de produto raro (embora o termo seja derivado da palavra latina especia, que quer dizer substância).
O alto valor das especiarias se explica pelos limites das técnicas de conservação existentes na época e também por hábitos alimentares. As especiarias eram amplamente utilizadas para a conservação das carnes e como temperos.
Ouro e especiarias foram bens muito procurados nos séculos XV e XVI, mas havia outros como certos tipos de peixes e madeiras, corantes, remédios etc.

A ocupação da costa africana, as feitorias e a ocupação das Ilhas do Atlântico


O reconhecimento da costa africana não se deu da noite para o dia. Levou 53 anos da ultrapassagem do Cabo Bojador por Gil Eanes (1434) até a temida passagem do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias (1487) A partir da entrada no Oceano Índico, foi possível a chegada de Vasco da Gama à Índia.
Sem penetrar no continente africano os portugueses estabeleceram na costa uma série de feitorias, que eram postos fortificados de comércio. A opção pelas feitorias praticamente tornava desnecessária a colonização do território ocupado pelas populações africanas.
A história das ilhas do Atlântico (Ilha da Madeira, Ilhas de Cabo Verde e Ilha de são Tomé) é bem diferente do que ocorreu na África. Nelas os portugueses realizaram experiências significativas de plantio em grande escala, empregando trabalho escravo.

A chegada ao Brasil


Em março de 1500, partiu do Rio Tejo em Lisboa uma frota de treze navios com destino às Índias, sob o comando do Fidalgo Pedro Álvares Cabral. A frota, após passar as ilhas de Cabo verde, tomou rumo oeste, afastando-se da costa africana até avistar o que seria terra a 21 de abril. A frota desembarcou no litoral da Bahia, em Porto seguro. Desde o século XIX, discute-se se a chegada dos portugueses ao Brasil foi obra do acaso ou se já havia conhecimento anterior do Novo Mundo. De qualquer forma, trata-se de uma controvérsia que hoje interessa pouco, pertencendo mais ao campo da curiosidade histórica do que à compreensão dos processos históricos.