quarta-feira, 8 de julho de 2009

01 - As causas da Expansão Marítima e a Chegada dos portugueses ao Brasil

Texto escrito com base no capítulo 01 do livro de Boris Fausto "História do Brasil"
(Pág.20)

A chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 constitui um dos episódios da expansão marítima portuguesa, iniciada em princípios do século XV. Para entender esse processo de expansão devemos começar pelas transformações ocorridas na Europa Ocidental nos séculos que precederam esse fenômeno.
Mesmo antes da expansão marítima os europeus já vinham expandindo os seus territórios por meio das cruzadas e guerras de reconquista. A Península Ibérica foi sendo retomada dos mouros e o Estado português foi consolidando-se nesse processo. Esse avanço, no entanto, foi interrompido pela crise que atingiu Europa no século XIV:
Uma crise de produtividade no campo (possivelmente ocasionada por fatores climáticos) provocou uma exploração mais intensa dos camponeses e gerou revoltas no campo. A nobreza dividiu-se internamente em uma série de guerras. Houve declínio da população, escassez de alimentos, epidemias, das quais a mais famosa foi a Peste Negra (1347-1351). Houve um retrocesso na expansão do território cristão.





A saída encontrada para tirar a Europa Ocidental da crise foi a centralização política na figura do rei a expansão geográfica e a ampliação da população a ser explorada (que se deu, entre outras coisas por meio da expansão marítima no século XV).

Portugal foi o pioneiro no processo de Expansão Marítima. Por quê?

Os principais fatores foram:

*A criação da Escola de Sagres pelo Infante Dom Henrique (1394 – 1460).
*No século XV, Portugal se afirmava no conjunto da Europa como um país autônomo, com tendência a voltar-se para fora.
*Os portugueses tinham experiência acumulada ao longo dos séculos XIII e XIV no comércio de longa distância.
*Lisboa, devido a sua localização geográfica, havia se tornado um grande centro mercantil, fazendo parte da rota comercial das cidades italiana até o norte europeu.
*A Experiência comercial foi facilitada pelo envolvimento econômico de Portugal com o mundo islâmico do Mediterrâneo.
*A posição geográfica do país facilitou a navegação devido a sua proximidade do Atlântico e suas ilhas, do continente africano e a presença de diversas correntes marítimas próximas à costa portuguesa que facilitava a navegação.



Mas, outros fatores da política portuguesa foram tão ou mais importantes que os já citados:
Embora Portugal não tenha escapado da crise do século XIV, as condições políticas em Portugal eram mais favoráveis que em outros lugares da Europa já que o Estado português (já unificado) estava menos sujeito a convulsões e disputas.
A monarquia portuguesa consolidou-se através de uma história teve um dos seus pontos mais significativos na Revolução de 1383-1385. Embora alguns historiadores considerem a Revolução de 1383 uma Revolução burguesa, o fato importante está nela ter provocado o reforço e a centralização do poder monárquico. Em torno do monarca (Mestre de Avis) foram se reagrupando vários setores sociais influentes da sociedade portuguesa: a nobreza, os comerciantes, e a burocracia nascente. Esse é um ponto fundamental na discussão sobre as razões da expansão portuguesa. Isso porque nas condições da época era o Estado, ou mais propriamente a Coroa, quem podia se transformar em um grande empreendedor, se alcançasse as condições de força e estabilidade para tanto.

Por último, lembremos que no início do século XV, a expansão correspondia aos interesses diversos das classes, grupos sociais e instituições que compunham a sociedade portuguesa:
Para os comerciantes a perspectiva era de um bom negócio.
*Para o rei era a oportunidade de criar novas fontes de receita além de ocupar os nobres.
*Para os nobres e membros da Igreja Católica servir ao rei ou servir a Deus cristianizando os povos “bárbaros” resultava em recompensas e em cargos cada vez mais difíceis de conseguir.
*Para o povo laçar-se ao mar significava emigrar, tentar uma vida melhor fugir do sistema.
*Apenas os empresários agrícolas ficavam de fora do processo.
A expansão converteu-se em uma espécie de projeto nacional que atravessou os séculos.

O Gosto pela aventura

Os impulsos pela aventura marítima não eram apenas comerciais. É importante compreender que o mundo naquela época era algo a ser descoberto pelos europeus. Eles não tinham uma noção do mundo como nós temos hoje. Havia continentes mal ou inteiramente desconhecidos para eles, oceanos ainda não atravessados. Essas regiões desconhecidas estimulavam a imaginação dos povos da Europa que vislumbravam conforme o caso, reinos fantásticos, habitantes monstruosos etc.


O desenvolvimento da navegação

A expansão marítima portuguesa representou uma importante renovação das chamadas “técnicas de marear”. O aperfeiçoamento de instrumentos como o quadrante, o astrolábio permitiram conhecer a localização de um navio pela posição dos astros. Os portugueses desenvolveram também um tipo de arquitetura naval mais apropriada, com a construção de caravelas utilizadas a partir de 1441. Era uma embarcação de pequeno porte, porém, extremamente veloz (para a época) que permitia aproximar-se bastante da terra firme sem o risco de encalhar.

A nova mentalidade humanista

Outro ponto importante da expansão portuguesa diz respeito a uma mudança gradual de mentalidade. No plano coletivo (popular) as mentalidades não mudaram rapidamente e o imaginário fantástico continuou a existir, mas, a expansão marítima foi mostrando cada vez mais como concepções antigas estavam equivocadas. Com isso, o critério de autoridade, ou seja, a aceitação de que uma afirmativa era verdadeira só por que foi feita por alguém que se supõe entender do assunto, começou a ser posto em dúvida. Era cada vez mais valorizado o conhecimento baseado na experiência.

A atração pelo ouro e pelas especiarias


Os bens mais buscados no curso da expansão portuguesa foram o ouro e as especiarias. É fácil compreender o interesse pelo ouro. O ouro era utilizado como moeda de troca, como índice de riqueza de uma nação (metalismo) e como artigo de luxo (jóias, roupas e decoração de templos e palácios). Mas, e as especiarias?
Associamos o termo especiaria à idéia de produto raro (embora o termo seja derivado da palavra latina especia, que quer dizer substância).
O alto valor das especiarias se explica pelos limites das técnicas de conservação existentes na época e também por hábitos alimentares. As especiarias eram amplamente utilizadas para a conservação das carnes e como temperos.
Ouro e especiarias foram bens muito procurados nos séculos XV e XVI, mas havia outros como certos tipos de peixes e madeiras, corantes, remédios etc.

A ocupação da costa africana, as feitorias e a ocupação das Ilhas do Atlântico


O reconhecimento da costa africana não se deu da noite para o dia. Levou 53 anos da ultrapassagem do Cabo Bojador por Gil Eanes (1434) até a temida passagem do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias (1487) A partir da entrada no Oceano Índico, foi possível a chegada de Vasco da Gama à Índia.
Sem penetrar no continente africano os portugueses estabeleceram na costa uma série de feitorias, que eram postos fortificados de comércio. A opção pelas feitorias praticamente tornava desnecessária a colonização do território ocupado pelas populações africanas.
A história das ilhas do Atlântico (Ilha da Madeira, Ilhas de Cabo Verde e Ilha de são Tomé) é bem diferente do que ocorreu na África. Nelas os portugueses realizaram experiências significativas de plantio em grande escala, empregando trabalho escravo.

A chegada ao Brasil


Em março de 1500, partiu do Rio Tejo em Lisboa uma frota de treze navios com destino às Índias, sob o comando do Fidalgo Pedro Álvares Cabral. A frota, após passar as ilhas de Cabo verde, tomou rumo oeste, afastando-se da costa africana até avistar o que seria terra a 21 de abril. A frota desembarcou no litoral da Bahia, em Porto seguro. Desde o século XIX, discute-se se a chegada dos portugueses ao Brasil foi obra do acaso ou se já havia conhecimento anterior do Novo Mundo. De qualquer forma, trata-se de uma controvérsia que hoje interessa pouco, pertencendo mais ao campo da curiosidade histórica do que à compreensão dos processos históricos.

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